Na madrugada de 23 de agosto de 1791, o Haiti tomou o último forte dos colonizadores franceses na ilha de Santo Domingo, que corresponde atualmente ao território do Haiti e da República Dominicana. A partir daí, inicia-se o processo que ao fim declarou a Independência do Haiti, proclamada em 1804. Esta foi a Revolução Haitiana, o único levante de pessoas escravizadas que resultou na formação de uma nação independente em nossa história.
O Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição é uma data proposta pela Organização das Nações Unidas, marcada para todo o dia 23 de agosto e que chama a atenção para formas contemporâneas de escravidão, que ainda vitimam mais de 40 milhões de pessoas.
Conheça a história do homem que conduziu esse levante, Toussaint L’Overture, que ocupou diversos papéis na sociedade, desde seu nascimento escravizado até se tornar o primeiro governante do Haiti independente.
François-Dominique Toussaint nasceu na colônia Saint-Domingue, no dia 1º de novembro de 1743, filho de africanos escravizados que serviam à casa grande de uma plantação de cana-de-açúcar. Enquanto escravo, recebeu educação dos jesuítas, foi um autodidata dedicado, tornou-se tratador de gado e de cavalos, curandeiro, cocheiro e, finalmente, mordomo. Aos 30 anos, já era o líder de seu clã e atendia como clínico geral da comunidade.
Em 1776, conquistou sua liberdade e seguiu a trabalhar como cocheiro. Economizou o bastante para alugar uma pequena fazenda na ilha, inclusive as 34 pessoas escravizadas que trabalhavam na plantação. Porém esta empreitada não resistiu ao impacto de uma crise econômica internacional. Louverture encerrou o contrato e retornou para a fazenda onde tudo começou, assumindo cargos assalariados de alta responsabilidade.
Aos 48 anos, Toussaint tinha acumulado alguma riqueza e reconhecimento social. A esta altura, pode finalmente comprar um pedaço de terra e construir uma casa para sua família. Quando a guerra entre as duas nações européias que dividiam a ilha se instaurou, Toussaint estava preparado e bem conectado para organizar e liderar um exército de 4 mil negros, com alguns oficiais brancos e mulatos, formando um exército de leais gerrilheiros.
Apesar de ter se aliado primeiro aos espanhóis, em poucos meses depois mudou de lado. A partir de então combateu-os, em menos de duas semanas, tomou diversas fortalezas espanholas, “libertando” o norte para a República Francesa. Lutou também contra os ingleses. Por volta de 1795, já controlava a maioria de duas províncias e em maio de 1797, Toussaint Louverture foi nomeado comandante chefe do exército republicano francês em Saint Domingue.
Exibindo habilidades de liderança, estratégia militar, política e diplomacia, Toussaint foi central nas lutas, batalhas e acordos que expulsaram os estrangeiros da ilha. Primeiro os ingleses em 1798, seguidos pelos espanhóis três anos mais tarde. A esta altura seu comando se expandia sobre todas as tropas de homens negros da ilha. Em 1801, toda a ilha de São Domingos estava sob sua autoridade.
Toussaint proclamou a abolição da escravidão e uma nova constituição, que o nomeava governador vitalício com poderes quase absolutos e a possibilidade de escolher seu sucessor. No entanto, Louverture não havia declarado explicitamente a independência de Saint Domingue, reconhecendo no artigo 1 que era uma única colônia do Império Francês.
Liderou até maio de 1802, quando foi capturado sob uma falsa bandeira de trégua enquanto negociava com o general Charles Leclerc, cunhado de Napoleão Bonaparte. Depois de preso foi enviado à França, onde foi confinado e interrogado repetidamente. Toussaint morreu encarcerado, de pneumonia, em abril de 1803, antes de completar os 60 anos de idade.
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Os Jacobinos Negros: Troussaint L’Overture e a revolução de São Domingos, de C.R.L. James.
O autor faz um relato minucioso da insurreição de escravos que expulsou os colonizadores franceses de São Domingos, antigo nome do país. Na colônia, principal parceiro comercial da França, os ideais da revolução na metrópole, que pregava ‘liberdade, igualdade e fraternidade’ ecoaram nas lideranças dos escravos rebelados, os jacobinos negros.
Disponível em versão física: Os jacobinos negros – Boitempo Editorial
O historiador Marco Morel levou 15 anos pesquisando e escrevendo o livro que trata das repercussões da Revolução Haitiana no Brasil colonial e imperial, acompanhando o período entre 1791 e 1840, tanto no Haiti e quanto no Brasil.
Disponível em e-book e na versão física: https://amzn.to/3wRt5Sf
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